Com AME, criador de teclado comandado pelo cérebro apresenta tese na UFRGS e vira doutor
Programa foi criado para possibilitar quem não tem nenhum movimento no corpo a escrever no computador. G1 acompanha a trajetória de Cláudio Luciano Dusik desde 2013.
Cláudio Luciano Dusik, hoje com 41 anos, continua dando exemplo de superação. Diagnosticado com Atrofia Muscular Espinhal (AME) no nascimento, a mãe dele ouviu dos médicos que o filho dificilmente chegaria aos 7 anos. Morador de Esteio, já foi muito além e promete continuar surpreendendo. Na semana passada, ganhou o título de doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ao apresentar um programa criado para possibilitar quem não tem nenhum movimento no corpo a escrever no computador.
Para chegar ao resultado, Cláudio, que é graduado em Psicologia, criou uma feramenta que liga o cérebro com o teclado. Uma tiara usada na cabeça capta os sinais cerebrais. "A ideia é a seguinte: quando eu emitir um sinal determinado, o computador vai transformar numa tecla", explica o agora doutor.
Ele recebeu a nota máxima na apresentação da tese. A orientadora Lucila Maria Costi Santarosa se diz orgulhosa.
"Eu aprendi muito com o Cláudio, eu aprendi até a ser mais humana, mais pessoa, mais gente. Porque o Cláudio ensina todo mundo!"
Lucila trabalha com tecnologia assistiva desde a década de 1980. "Ela visa a contemplar todo o processo de inclusão, de pessoas que necessitam de toda essa dimensão para poder fazer parte do contexto da sociedade", comenta.
Quando conversou com o G1 em dezembro de 2016, antes de o projeto de doutorado ser finalizado, Cláudio detalhou que o teclado virtual aparece no computador. O software, então, faz uma varredura com as teclas e, quando chegar na que se deseja apertar, a pessoa que está usando o sistema precisa emitir um pensamento que tire o cérebro do relaxamento. "A grosso modo, o computador transforma em um clique toda vez que há um aumento da atividade cerebral", disse ele na ocasião.
Diferente do teclado virtual desenvolvido no mestrado e disponibilizado de forma gratuita, este trabalho terá o custo do dispositivo, para quem tiver interesse.
No mestrado, que concluiu em 2013, ele criou o teclado permitia a pessoas com deficiência digitar com rapidez, pois as letras do alfabeto ficam agrupadas em famílias silábicas. Para o doutorado, Cláudio desenvolveu a atualização do projeto para beneficiar quem não tem nenhum movimento corporal. A Atrofia Muscular Espinhal deforma o corpo e limita os movimentos físicos.
A mãe de Cláudio, Eliza Dusik, sempre lutou ao lado do filho. "Nós fazíamos de tudo para vê-lo sorrir, brincar", conta ela, que tem outros cinco filhos, e agora comemora a conquista.
Ainda em dezembro de 2013, Cláudio recebeu outro título, do Senado Federal: a Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara. A condecoração é entregue, anualmente, a cinco personalidades com relevante contribuição à defesa dos direitos humanos no país.
- Autor: G1/RS
- Imagens: Reprodução/RBSTV